5 de janeiro de 2012

La Maison Dieu - Legião Urbana


Se dez batalhões viessem à minha rua
E 20 mil soldados batessem à minha porta
Á sua procura
Eu não diria nada
Porque lhe dei minha palavra
Teu corpo branco já pegando pêlo
Me lembra o tempo em que você era pequeno
Não pretendo me aproveitar
E de qualquer forma quem volta
Sozinho pra casa sou eu
Sexo compra dinheiro e companhia
Mas nunca amor e amizade, eu acho
E depois de um dia difícil
Pensei ter visto você
Entrar pela minha janela e dizer:
- Eu sou a tua morte
Vim conversar contigo
Vim te pedir abrigo
Preciso do teu calor
Eu sou
Eu sou
Eu sou a pátria que lhe esqueceu
O carrasco que lhe torturou
O general que lhe arrancou os olhos
O sangue inocente
De todos os desaparecidos
Os choque elétrico e os gritos
- Parem por favor, isto dói
Eu sou
Eu sou
Eu sou a tua morte
E vim lhe visitar como amigo
Devemos flertar com o perigo
Seguir nossos instintos primitivos
Quem sabe não serão estes
Nossos últimos momentos divertidos?
Eu sou a lembrança do terror
De uma revolução de merda
De generais e de um exército de merda
Não, nunca poderemos esquecer
Nem devemos perdoar
Eu não anistiei ninguém
Abra os olhos e o coração
Estejamos alertas
Porque o terror continua
Só mudou de cheiro
E de uniforme
Eu sou a tua morte
E lhe quero bem
Esqueça o mundo, vim lhe explicar o que virá
Porque eu sou
Eu sou
Eu sou

29 de dezembro de 2011

Um ano que passou, ou um ano que foi vivido?

2011 entra em seu penúltimo dia amanhã.
Na mídia o que se fala é sobre resoluções, o que se fez, o que queria ter feito, o que mudou, o que continuou do mesmo jeito. Mais um ano que se passou e mais um ano que vivemos. 
Iniciamos o ano e o terminaremos, vivos. 
Sentimentos de esperança, sonhos, desejos também despertam muito nesses momentos finais de um ano.
Aquilo que não conseguimos realizar em 2011, pode ser realizado em 2012 e assim vai. Enquanto vivermos, podemos criar sonhos, vontades, metas e desejos de realização. Podemos escolher um ano somente para semear, e outro somente para colher. Depende de nossas escolhas e qual o sentido que temos pra aquilo que fazemos. 

Em 2011, sinto que realizei muitas das metas que me propus alcançar. Amadureci, evolui e segui vivendo de forma similar em outros aspectos. Tive frustrações, não consegui realizar tudo. Novamente, a esperança de um novo ano me faz ter fé em resolver essas questões ainda não resolvidas. Ou, me trouxe a percepção de que tal meta não era tão boa quanto pensava, e posso mudar. Mudar de direção.

Não é só o chegar da meia noite do dia 31 que nos faz mudar. Que nos faz sermos novos em um novo ano.
Ainda somos o mesmo de um minuto e de um ano atrás. Continuamos com os mesmos medos, sofrimentos, decepções e fracassos. Temos as mesmas alegrias, amor, saúde.

Porém, o que muda a partir daquele primeiro minuto do novo ano é toda a esperança que temos em viver mais um novo ano e nos colocarmos expectativas, sonhos e desejos para realizarmos. Essa esperança nos faz ter forças para viver e encarar um novo ano, nos possibilita ter um novo começo. Aquele ano acabou. Com ele, posso sim enterrar muitas outras coisas negativas para mim. Posso me permitir ser de outra forma, pois, um novo ano me ilumina e me enche de esperança.

Mais do que passarmos por um ano, o importante é vivermos esse ano. Intensamente. Diariamente. Fazendo eterno cada momento bom. Tirando do sofrimento, um aprendizado. Construindo um novo começo quando a vida só nos apresenta finais. 

Podemos sim ser diferentes no novo ano, podemos ser tudo que quisermos ser e pudermos ser. Mas, não só no novo ano. Em cada novo dia. Podemos fazer de cada novo dia, uma nova luz de esperança. Uma nova esperança de fazer o novo, o diferente. Até mesmo sendo iguais. Só pelo fato de amarmos a vida, amaremos todos os dias, todos os minutos serão como presentes para vivermos. Para sermos do jeito que quisermos e pudermos, como já disse.

Viver e deixar que nós passemos pelo ano.
Que nós, possamos ser os únicos donos de nossa história, autores e atores de nossos atos. Que possamos nos responsabilizar por cada ato que fazemos a cada novo dia.

Desejo que todo o mundo tenha em cada novo dia, uma luz de esperança e motivação para viver e ser feliz.

18 de setembro de 2011

SAUDADES


I'm missing you
I'm the man you never knew
Always blue over you
And I can't help it
I can not fake it
For I still love you

I don't know you anymore
Behind the shell lies something wounded
Have you found your superman
And does he fit your master plan
I feel it hard to search for something new

I sent you a letter
I thought it be better than calling you


ARK - Missing You

10 de setembro de 2011

O Retorno


Estava pensando como sobre tinha sido meu dia de trabalho enquanto passávamos pelo posto de gasolina da esquina. Naquele ônibus lotado e caótico, minha única preocupação era em como terminar meu quadro que começara na noite anterior. Depois desse pensamento, me peguei rindo de mim mesma; pois ao longo dos anos a minha vida havia tornado-se tão tranqüila e todas minhas preocupações eram provenientes de meus próprios feitos. Sentia-me tão plena naqueles instantes. Um filho criado, um divórcio, muitos alunos, família e amigos. Minha vida se ampliava e se reduzia a pessoas e por elas que vivia. Realmente eu era bem preocupada com todos e no meio dessa reflexão cotidiana, me senti mais preocupada comigo do que em qualquer outro momento da minha vida inteira, ao longo desses 58 anos.
Passados alguns minutos sem ter uma visão nítida do mundo exterior, me detive em olhar as pessoas que faziam parte do transporte público comigo. Olhei vários rostos estranhos, cansados, estressados, angustiados e pensativos. Pessoas que vão e vem com determinado rumo e uma história única para ser contada. Pensei na minha história também e qual seria o conto que a contaria. Pensei em uma outra pessoa que namorei quando muito jovem ainda. Relembrei meu amor de adolescente, aquele “o meu primeiro amor”. Eu tinha uns 18 anos quando o conheci, estava ainda fazendo Matemática na Federal. Pensava agora em como não era feliz fazendo aquela faculdade. Invadida pelos meus pensamentos da juventude, peço licença ao passageiro que senta ao meu lado e desço do ônibus em direção ao meu apartamento.
Ao chegar perto da frente do prédio, me deparo com um homem grisalho, alto e bem vestido que examina o porteiro eletrônico a fim de encontrar o número certo. O vejo de costas, com uma folha pequena na mão esquerda e ajeitava os óculos com a direita. Aproximo-me e pergunto se este precisa de ajuda. Quando o homem se vira de frente para mim e consigo ver seu rosto, o único pensamento que me veio foi: “eu esperava que isso aconteceria”. Ele quase que num instante, deixa cair a folha no chão e me abraça forte. Já não preciso relembrar mais: o meu primeiro amor estava ali me tocando novamente.
Enfim estávamos eu e ele tomando um café na sala do meu apartamento. Partilhamos toda nossa vida em duas horas de conversa. O tempo parecia estar parado e naquele momento percebi o quanto nossas histórias estavam se cruzando mais uma vez.
Demétrio é seu nome. Havia morado fora de Porto Alegre durante 30 anos; também estava divorciado e tinha duas filhas e um filho. Todos estavam crescidos e moravam em Recife. Contou-me que sua volta era devido à complicações na doença do pai e ele já não poderia mais se ver morando longe dele, no final de sua vida. Ele estava realizado na vida, com bons recursos financeiros e planejando uma velhice tranqüila. Disse-me que sempre teve vontade em me rever e que soube do meu paradeiro com um amigo da época de faculdade.
A última imagem que tinha de Demétrio era de um jovem rapaz e agora o via com cabelos grisalhos e dor na coluna. Muda-se toda a representação que tinha dele. Pensava ao ouvi-lo: o quanto do jovem rapaz estava ainda ali e o que não conhecia era a maior parte. Não estava desconfiando dele, mas refleti sobre o fato de tê-lo dentro de casa, quase como um estranho. Afinal, a situação estava tão confusa para mim.
Depois de muita conversa, combinamos de nos encontrar noutro dia. Trocamos telefone e e-mail. Despedi-me de Demétrio, o levei até a porta e ao estar novamente sozinha, me dei conta de tanta coisa que minha atitude mais saudável foi de gritar. Gritei num tom moderado e me sentei no sofá, pensativa e surpresa.
Ao longo de algumas saídas com Demétrio, pude perceber o homem maravilhoso que ele havia se tornado. Gentil, educado, vaidoso e bem-humorado. Tudo que não conhecia nele me fazia querê-lo ainda mais. Pensava o quanto eu estava melhor, sem ser jovem e ele, na mesma situação. Melhoramos e muito com a idade, o tempo e as vivências que tivemos. Redescobri o que significava ir ao cinema de mãos dadas e também me descobri tendo prazer pós-menopausa. Demétrio e eu estávamos reacendendo uma paixão que fora tão especial em nossas juventudes.
À medida que nossa relação foi ficando mais sólida, convidei Demétrio para visitar meu filho em São Paulo num final de semana. Estava tão entusiasmada com aquele momento que seria tão nosso – do ponto de vista da viagem a dois e ao mesmo tempo tão meu. Meu porque pela primeira vez apresentaria a meu filho um namorado e reafirmaria toda a independência que busquei depois do meu casamento. Agora eu entendia que amor como aquele só se tem com uma pessoa. Sortudamente, eu estava tendo um grande amor com a mesma pessoa em duas fases da minha vida. Sentia-me tão apaixonada e encantada por Demétrio. Um homem sedutor, atraente, inteligente e divertido. Parecia que ele não era real às vezes.
Nossa viagem para São Paulo foi ótima. Eu estava completamente feliz perto dele e do meu filho que era um grande orgulho na minha vida. Sentia-me rejuvenescida e ao mesmo tempo madura o bastante para não me decepcionar com um possível fim da nossa relação. Lembro-me dos ótimos passeios que fizemos, juntamente com a noiva de meu filho. Saímos para jantar no sábado em um restaurante japonês, o qual todos gostam de comer. Tivemos ótimos assuntos durante o jantar. Minha nora entusiasmada com o casamento me perguntava sobre tudo que poderia ou não fazer na cerimônia. Eu tentava dar total atenção a ela, riamos bastante também de suas idéias um tanto quanto estranhas; mas para quem eu não parava de olhar era ele, o meu Demétrio. Estava totalmente absorta naquela paixão e minhas afirmações sobre minha maturidade se faziam destruídas tamanha minha entrega àquele homem.
Desde à tarde do nosso reencontro, eu não pude administrar tantos sentimentos ao mesmo tempo. Esse é o conto da minha história, contada no momento que estou novamente internada nesse hospital, com certa dose de medicamentos afetando meu estado de humor. Mas, Demétrio está aqui deitado na cama ao lado, me olhando com paixão. Todos podem dizer que ele nunca retornou, mas, eu sei que esse amor é único e verdadeiro. 

Criado por Bruna Costa da Silva
Oficina de Escrita Criativa com Charles Kiefer -  Setembro de 2011 - PUCRS

21 de agosto de 2011

Poderia mudar o nome do Blog pra desconstruindo-se.

7 de agosto de 2011

Saber cuidar

O ser humano é simultaneamente, utópico e histórico-temporal.
Ele carrega em si a dimensão Saturno junto com o impulso para o céu, para a transcendência, para o vôo da águia (Júpiter).
Nele se revela também o peso da terra, da imanência, o ciscar da galinha (Terra).
É pelo cuidado que ele mantém essas polaridades unidas e faz dela material da construção de sua existência no mundo e na história. Por isso o cuidado é cuidado essencial.

Boff, 1999

26 de junho de 2011

A idade e a Mudança


A idade e a Mudança - Lya Luft

"Mês passado participei de um evento sobre as mulheres no mundo contemporâneo.
  
  Era um bate-papo com uma platéia composta de umas 250 mulheres  de todas as raças, credos e idades.
E por falar em idade, lá pelas tantas, fui questionada sobre a minha e, como não me envergonho dela, respondi.
  
  Foi um momento inesquecível...  A platéia inteira fez um 'oooohh' de descrédito.
  
  Aí fiquei pensando: 'pô, estou neste auditório
há quase uma hora exibindo minha inteligência,
e a única coisa que provocou uma reação calorosa da mulherada foi o fato de eu não aparentar a idade que tenho?
Onde é que nós estamos?'

Onde, não sei, mas estamos correndo atrás de algo caquético chamado 'juventude eterna'.
Estão todos em busca da reversão do tempo.
  
    Acho ótimo, porque decrepitude também não é meu sonho de consumo, mas cirurgias estéticas não dão conta desse assunto sozinhas.
  
  Há um outro truque que faz com que continuemos a ser chamadas de senhoritas, mesmo em idade avançada.
A fonte da juventude chama-se 'mudança'.
 
De fato, quem é escravo da repetição está condenado
a virar cadáver antes da hora.
  
  A única maneira de ser idoso sem envelhecer
é não se opor a novos comportamentos, é ter disposição para guinadas.
  
  Eu pretendo morrer jovem aos 120 anos.
  
  Mudança, o que vem a ser tal coisa?
  
  Minha mãe recentemente mudou do apartamento enorme
em que morou a vida toda para um bem menorzinho.
  
  Teve que vender e doar mais da metade dos móveis e tranqueiras, que havia guardado e, mesmo tendo feito isso com certa dor, ao conquistar uma vida mais compacta e simplificada, rejuvenesceu.
  
  Uma amiga casada há 38 anos cansou das galinhagens
do marido e o mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65 anos.
  
  Rejuvenesceu.
 
Uma outra cansou da pauleira urbana e trocou
um baita emprego por um não tão bom,
só que em Florianópolis,
onde ela vai à praia sempre que tem sol.
  
  Rejuvenesceu.
 
Toda mudança cobra um alto preço emocional.
  
  Antes de se tomar uma decisão difícil, e durante a tomada,
chora-se muito, os questionamentos são inúmeros,
a vida se desestabiliza.
  
  Mas então chega o depois, a coisa feita,
e aí a recompensa fica escancarada na face.
 
Mudanças fazem milagres por nossos olhos,
e é no olhar que se percebe a tal juventude eterna.
  
  Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem,
só que continuará opaco porque não existe plástica que resgate seu brilho.
  
  Quem dá brilho ao olhar é a vida que a gente optou por levar.
 
Olhe-se no espelho..."

Lya Luft